Fotografia, substantivo feminino
- Leo Saldanha
- 7 de mar.
- 8 min de leitura
A influência transformadora das mulheres na arte de valorizar e capturar memórias

Milada Vigerova, Unsplash
Patrocínio deste site: Fotograf.IA + C.E.Foto
Mulher e fotografia são duas palavras muito próximas. Ambas envolvem sensibilidade, emoção e uma relação singular com as memórias. Mesmo sem ocupar um lugar de fala tradicional, creio que posso oferecer uma análise sobre a importância das mulheres para a fotografia. Além dos nomes famosos (que cito mais adiante), há um outro fator fundamental: são as mulheres que impulsionam a fotografia no consumo.
A fotografia de família é pensada para elas. Seja no ensaio, na sessão em que a mulher sempre está no centro do assunto ou nos diversos segmentos interligados – gestante, parto, newborn, aniversário – elas são o foco. E, se recuarmos um pouco, na fotografia de casamentos sabemos bem que a presença feminina sempre foi essencial para a história.
Um fato curioso: na história da fotografia, a Kodak, ao praticamente criar o segmento comercial – popularizando a fotografia com suas câmeras em todo o mundo – direcionava suas propagandas para a mulher. A mãe que clicava e valorizava os momentos de família, atuando como guardiã das memórias. As campanhas de marketing da Kodak eram inteiramente voltadas para esse público, inclusive com o apelo da “Kodak Girl”.


Avançando para os dias de hoje, as mulheres continuam a ser protagonistas em diversas ações, como:
• Imprimir fotos ao redor do mundo, valorizando álbuns que registram famílias, momentos e viagens.
• Resgatar e promover a fotografia analógica – seja com filme ou fotografia instantânea – entre mulheres de todas as idades. Ou seja, o público-alvo definido pela Kodak lá para o começo do século XX continua relevante e certeiro.
Porém, nem tudo é perfeito. As fotógrafas ainda não recebem o destaque que merecem. Basta observar a maioria dos congressos de fotografia, onde a presença de palestrantes homens predomina. Embora haja evolução – hoje vemos, em muitos eventos, cerca de 30% de palestrantes mulheres – essa disparidade continua evidente.
Lembro de uma pesquisa, realizada há cerca de uns 10 anos, que apontava que, somente nos EUA, existiam 100 mil fotógrafas de família. Muitas delas escolheram a profissão após se tornarem mães, com o desejo de registrar e eternizar momentos familiares de forma tocante e profunda. O que só comprova como elas puxam todo o mercado. O fato é que são elas que realmente valorizam o click, as memórias impressas (e digitais) e a cobertura fundamental dos eventos importantes das nossas vidas.

Logo, a fotografia é, por natureza, um substantivo feminino, movido pela emoção. As mulheres se destacam ao criar histórias nas mais variadas áreas do mercado – seja na arte, na parte comercial ou nos inúmeros nichos do ramo. Do casamento ao fotojornalismo, tanto aqui quanto lá fora, já celebramos inúmeros talentos, e espero que muitos novos nomes continuem a surgir e se destacar.
fotografia
substantivo feminino
1. arte ou processo de reproduzir imagens sobre uma superfície fotossensível (como um filme), pela ação de energia radiante, esp. a luz.
2. figurado - a imagem obtida por esse processo; foto, retrato.
3. figurado - reprodução ou cópia fiel de algo.
Fotógrafas icônicas que transformaram a arte de registrar memórias
Ao longo dos anos, muitas mulheres deixaram sua marca na fotografia, contribuindo com abordagens inovadoras e sensíveis que ampliaram a forma de ver e registrar o mundo. A seguir, uma seleção de nomes internacionais e brasileiros, cada uma com sua trajetória e áreas de atuação, reforçando o poder e a diversidade do olhar feminino:
Destaques da fotografia brasileira
Nair Benedicto
Combativa na reivindicação dos direitos trabalhistas da sua categoria profissional, também marcou seu nome na história da fotografia brasileira recente como fundadora da F4, uma das primeiras agências fotográficas brasileiras com modelo de cooperativa, criada em 1979 ao lado de Juca Martins, Ricardo Malta e Delfim Martins, bem como o núcleo Nafoto, voltado a eventos para o estudo e debate da fotografia. >>> Sobre mulheres e fotografia: uma conversa com Nair Benedicto - ZUM - ZUM
Maureen Bisilliat
A inglesa Maureen Bisilliat, nascida em Englefield, Surrey, construiu desde os anos 1950, quando se mudou para o Brasil, um dos mais sólidos trabalhos de investigação fotográfica da alma brasileira, aliando a seu olhar de estrangeira um respeito profundo por seus temas – sobretudo sertanejos e indígenas – e a busca de apoio conceitual na antropologia e em grandes obras da literatura nacional. Desde dezembro de 2003, sua obra completa está incorporada ao acervo do Instituto Moreira Salles, num total de 16.251 imagens, entre fotografias, negativos em preto e branco e cromos coloridos. >>> Maureen Bisilliat - Instituto Moreira Salles
Pioneiras da fotografia moderna no Brasil
As primeiras décadas do século XX foram marcadas pela chegada de imigrantes de diversas partes do mundo a São Paulo, incluindo mulheres que, fugindo de perseguições e buscando novas oportunidades, se tornaram pioneiras na fotografia. Com um olhar singular, essas artistas registraram a industrialização, as contradições e os momentos cotidianos de uma cidade que almejava se firmar como o maior centro industrial da América Latina, mas que convivia com desigualdades profundas.
Alice Brill (1920–2013): Fotógrafa, pintora, gravadora, ensaísta e educadora, Brill documentou a inserção da mulher como público-alvo no início da era industrial. Suas imagens, como as de vitrines de lojas na década de 1950, capturam a emancipação feminina ao mesmo tempo em que refletem como o capitalismo industrial passou a colonizar a figura da mulher.
Hildegard Rosenthal (1913–1990): Fotógrafa de origem suíça, Rosenthal registrou a "nova mulher" dos anos 1940. Suas imagens – como a que mostra uma mulher segurando um jornal – destacam o desejo de representatividade e o reconhecimento da presença feminina no espaço público.
Madalena Schwartz (1921–1993): Nascida na Hungria e iniciada na fotografia de maneira inesperada, Schwartz se tornou uma renomada retratista do centro paulistano dos anos 1970. Seu trabalho documenta com sensibilidade o cotidiano e a diversidade cultural da cidade, revelando também aspectos das comunidades marginalizadas.
Stefania Bril (1922–1992): Formada em química, a polonesa Bril consolidou seu nome ao registrar cenas da vida urbana com humor e lirismo. Em uma de suas imagens marcantes de 1973, um menino lê gibi apoiado num carrinho de supermercado, revelando uma crítica sutil ao ambiente urbano e à transformação impulsionada pelo crescimento acelerado dos automóveis.
Lily Sverner (1934–2016): Com um olhar empático, Sverner registrou o cotidiano dos habitantes de São Paulo, desde crianças até idosos. Seu trabalho ressalta a pluralidade e as contradições da metrópole, aproximando o espectador da realidade dos que muitas vezes permanecem à margem.
Gertrudes Altschul (1904–1962): Integrante de grupos fotográficos tradicionalmente dominados por homens, Altschul destacou-se ao explorar a fotografia de arquitetura e composições dramáticas. Suas imagens, que brincam com contrastes de luz e sombra, evidenciam a tensão entre a modernidade emergente e os traços tradicionais da cidade.
Claudia Andujar (1931): Chegando ao Brasil em 1955, Andujar trouxe um olhar ousado e crítico sobre a vida urbana de São Paulo. Suas fotografias, marcadas por ângulos inusitados e uma atenção aos detalhes, capturam tanto a transformação social e política do período quanto a força dos indivíduos diante dos grandes monumentos e da dinâmica urbana.

Uma pequena lista de nomes internacionais que são icônicas
Annie Leibovitz (1949–presente) - Annie Leibovitz é uma fotógrafa norte-americana renomada por seus retratos icônicos de celebridades. Sua carreira ganhou destaque na revista Rolling Stone, onde trabalhou por 13 anos e ajudou a definir a estética da publicação. Uma de suas imagens mais famosas é a capa de 1980 da Rolling Stone, que retrata John Lennon nu abraçado a Yoko Ono, capturada poucas horas antes do assassinato do músico. Leibovitz é conhecida por estabelecer uma relação de intimidade e cumplicidade com seus fotografados, transformando retratos em verdadeiras obras de arte.
Dorothea Lange (1895–1965) - Dorothea Lange foi uma fotógrafa documental e fotojornalista americana. Durante a Grande Depressão, trabalhou para a Farm Security Administration (FSA), capturando as dificuldades das pessoas da classe trabalhadora em seu cotidiano. Suas imagens são carregadas de emoção, contando histórias comoventes em um único quadro. Sua obra mais famosa, "Mãe Migrante", mostra uma mãe oprimida com seus dois filhos pequenos, exemplificando sua capacidade de contar histórias através de suas fotografias.
Cindy Sherman (1954–presente)Cindy Sherman é uma fotógrafa americana conhecida por usar sua arte como forma de crítica social e por desafiar noções de identidade por meio de seus muitos autorretratos. Em seus trabalhos, ela costuma usar próteses e maquiagem para se transformar em uma variedade de personagens diferentes, levando o espectador a questionar o processo de construção de uma identidade. Seu estilo único e imagens instigantes fazem de Sherman uma figura influente no mundo da fotografia contemporânea.
Julia Margaret Cameron (1815–1879) - Julia Margaret Cameron foi uma fotógrafa britânica pioneira no retrato fotográfico. Conhecida por suas imagens suaves e desfocadas, ela buscava capturar a essência e a alma de seus sujeitos, muitas vezes figuras literárias e intelectuais de sua época. Sua abordagem artística diferenciada abriu caminho para uma estética mais expressiva na fotografia do século XIX.
Margaret Bourke-White (1904–1971) - Margaret Bourke-White foi uma fotojornalista americana e a primeira mulher a trabalhar como fotógrafa de guerra. Conhecida por suas imagens impactantes, ela documentou eventos históricos significativos, incluindo a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial, evidenciando o poder do registro visual em contextos históricos.
Berenice Abbott (1898–1991) - Berenice Abbott foi uma fotógrafa americana conhecida por suas fotografias arquitetônicas e pela documentação das transformações urbanas de Nova York. Seu olhar atento às mudanças na paisagem urbana ressalta a importância da documentação estética e técnica na fotografia.
Nan Goldin (1953–presente) - Nan Goldin é uma fotógrafa americana contemporânea aclamada por suas fotografias íntimas e autênticas que documentam sua vida e seus entes queridos. Em seu trabalho, ela aborda questões delicadas de nossos tempos, como a epidemia de opioides, a crise do HIV e a comunidade LGBTQ+. Suas fotografias são atraentes, desafiadoras e cruas, expondo a vulnerabilidade por trás dos atos de amor, violência e dificuldades que ela escolhe capturar.
Vivian Maier (1926–2009)Vivian Maier foi uma fotógrafa de rua americana que trabalhou como babá por cerca de 40 anos. Seu trabalho, composto por mais de 150.000 imagens produzidas durante sua vida, foi descoberto em um leilão em 2007. Maier era fascinada pela arquitetura e pelas pessoas das cidades em que passava o tempo, especialmente Nova York e Chicago. Seu trabalho ganhou reputação em museus de arte de todo o mundo após sua descoberta.
Gertrude Käsebier (1852–1934) - Gertrude Käsebier foi uma fotógrafa americana conhecida por seus retratos que capturavam a essência humana com delicadeza e sensibilidade. Seu trabalho influenciou a aceitação da fotografia como uma forma de arte legítima no início do século XX.
Anna Atkins (1799–1871) - Anna Atkins foi uma botânica e fotógrafa britânica, reconhecida como a primeira pessoa a publicar um livro ilustrado exclusivamente com imagens fotográficas. Seu uso pioneiro da cianotipia para documentar plantas marinhas demonstrou como a arte pode dialogar com o conhecimento científico.
Diane Arbus (1923–1971) - Diane Arbus foi uma fotógrafa americana conhecida por suas imagens em preto e branco que capturam os rostos de pessoas em grande parte sub-representadas ou marginalizadas – incluindo modelos trans, nudistas e idosos. Na década de 1960, seu trabalho editorial para publicações como Harper’s Bazaar, Sunday Times Magazine e Esquire revelou assuntos convencionais como escritores e atores em seus próprios ambientes familiares, muitas vezes mostrados olhando diretamente para a câmera com uma expressão de intriga ou indiferença.
Sally Mann (1951–presente) - Sally Mann é uma fotógrafa americana conhecida por seus trabalhos que exploram temas pessoais e intimistas, como família, infância e memória. Seu livro "Immediate Family" gerou debates sobre privacidade e arte, contribuindo para uma narrativa visual mais profunda na fotografia contemporânea.
Frances Benjamin Johnston (1864–1952) - Frances Benjamin Johnston (1864–1952) foi uma fotógrafa americana pioneira, reconhecida por seus retratos de figuras ilustres e pela documentação de diversos aspectos da sociedade americana. Considerada uma das primeiras fotojornalistas dos Estados Unidos, Johnston capturou imagens que vão desde presidentes e escritores renomados até cenas do cotidiano e arquitetura histórica. Seu trabalho não apenas preservou momentos significativos da história americana, mas também abriu caminho para futuras gerações de mulheres na fotografia.
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